Carta aberta à Conceição Evaristo

Brasil, 13 de dezembro 2020.

Querida Conceição,

Estamos escrevendo esta carta para compartilharmos com você nossos sentimentos em relação ao seu livro Insubmissas lágrimas de mulheres.

Nós somos um grupo de mulheres, amigas, que em meio ao isolamento social por ocasião da pandemia, nos reunimos, animadas pela ideia de uma de nós, para compartilharmos experiências mediadas por livros de literatura.

O seu livro mencionado foi um dos escolhidos e não nos arrependemos nenhum pouco da escolha, embora tenha sido um teste para os nervos, justamente em um momento da vida tão difícil.

Para começar, entendemos que a descrição/sinopse do livro não consegue nem introduzir o que é a grandiosidade das histórias narradas no seu interior. Já no primeiro conto nos deparamos com uma história que de forma discreta, sorrateira vai tomando força, como uma garoa que vai se tornando uma chuva caudalosa. E essa é a metáfora para o livro como um todo. Cada história possui muita potência.

À medida que as histórias avançam fomos nos identificando com aquelas mulheres, mesmo quando as vidas não tinham muito em comum com nossa realidade. Mulheres que se sentiram identificadas com outras mulheres como se em cada história tivesse algo de nós. E tinha!

Nem sempre pudemos identificar um conto preferido, mas algumas conseguiram se localizar melhor em alguns deles. Em nossa discussão, recordamos de todas as histórias e refletimos o quanto nós mulheres tivemos que batalhar para termos nossos direitos reconhecidos ao longo dos séculos e ainda temos que lutar contra o machismo impregnado em nossa sociedade.

Entendemos também o quanto nossas vidas de mulheres brancas ainda encontram privilégios em comparação à vida das mulheres negras. Em nossas conversas estamos constantemente visitando nosso próprio machismo e racismo, pois essa transformação começa em cada um nós e não é uma tarefa fácil ou simplista. Deste modo podemos expandir nosso diálogo com os demais.

Seu livro termina de forma magistral e no último conto encontramos esse diálogo tão necessário em nossa sociedade, o diálogo do respeito. Um lugar onde possamos conviver com nossas diferenças, com nossa singularidade mas como sujeitos humanos.

Uma leitura inundada por insubmissas lágrimas.

Agradecemos suas palavras,

Um abraço das outras iguais,

Página Falada

Livro: Insubmissas lágrimas de mulheres, Conceição Evaristo. Malé, 2017.

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