Qual “a idade da razão”?

Conflitos acerca da existência. O que fazer com uma gravidez indesejada? Assumir ou não esse compromisso? Assumir ou não compromissos? Como sustentar a liberdade?

Mathieu, um jovem professor de filosofia, tem como principal compromisso de sua vida manter a sua liberdade. Nesse empreendimento, o jovem professor está sempre às voltas em romper relacionamentos. Mas é possível sermos totalmente livres?

O romance A idade da razão, de Sartre, inicia com o conflito de Mathieu quando descobre que Marcelle, a mulher com quem se relaciona, está grávida. Essa situação passa a ser um empecilho para sua liberdade, levando-o a perambular pela cidade em busca de uma solução. Ocorre que nesse percurso encontra pessoas do seu núcleo de convivência com as quais empreende diálogos, sendo constantemente questionado sobre sua liberdade, através de sua escolha por não ter o filho e não dar um nome ao relacionamento que vive com essa mulher.

Foto por Alex Green em Pexels.com

Nosso personagem sente-se tão lúcido, tão certo da forma que escolheu para viver que em um momento de conversa com Marcelle, escuta dela: “Ora, a famosa lucidez. Você é engraçado, meu caro, tem um medo tão louco de se iludir a si mesmo que recusaria a mais bela aventura do mundo para não se arriscar a uma mentira.”

Um casal que conseguia dialogar e que mostrava uma liberdade que não é comum, mas que ao final mostrou um funcionamento clássico: um homem que nunca perguntava à mulher o que ela queria, e uma mulher que esperava que esse homem soubesse o que ela queria sem que ela precisasse lhe falar.

Tentando manter sua liberdade sem assumir compromissos, surge como pano de fundo um receio do envelhecimento. Um repúdio ao processo de envelhecimento, vivido na busca por manter a juventude através da juventude de outros. Seu irmão lhe sinaliza isso: “ Eu imaginava que a liberdade consistia em olhar de frente as situações em que a gente se meteu voluntariamente e aceitar as responsabilidades. Não é por certo tua opinião…Estás, no entanto, na idade da razão…mas isso você também o esconde, quer fazer-se de mais moço.”

Mathieu tenta se manter fiel ao seu desejo por ser livre e da forma que concebe essa liberdade, entretanto a vida sempre nos confronta com situações que evidenciam o quanto a liberdade individual é limitada e encadeada com a do outro. Isso nos faz alterar rotas de escolhas, nos confrontarmos com nosso desejo, que vai se mostrando enigmático e nos surpreende ao longo da vida, nos colocando em situações que outrora seriam inimagináveis.

Sua busca por liberdade o faz entrar em outra forma de prisão.

“Fico só!” Só, porém não mais livre do que antes. – Mathieu

Mas afinal, qual é “a idade da razão”? Como ser livre? Um belo romance para nos inspirarmos a refletir sobre a existência.

A idade da razão (1981), Jean-Paul Sartre, Tradução: Sérgio Milliet, Editor: Victor Civita.

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