Algumas dificuldades para mulheres cuidarem da saúde

Fui a uma clínica realizar exames chatíssimos mas necessários, os tais: ecografias de mamas, ultrassom transvaginal e a mamografia. Neste momento são todos preventivos e isso me deixa aliviada. Por coincidência este ano eles calharam de ser no mês da campanha Outubro Rosa, que busca prevenir à população quanto ao câncer de mama. A clínica que costumo ir, realiza atendimento exclusivo para mulheres e talvez pela campanha estava mais movimentada do que outras vezes.

Estava observando as mulheres neste contexto e pensei várias coisas. Há aquelas, que assim como eu, devem estar fazendo exames preventivos e há aquelas que estão investigando algum possível problema de saúde ou controle de algum tratamento. Em algumas é possível flagrar o olhar apreensivo ao pegar o resultado dos exames, não conseguindo nem sequer sair daquele ambiente para ler o laudo, fazendo isso ali, de pé mesmo. Em algum momento eu também já senti esse tipo de ansiedade.

Há alguns anos costumo fazer exames neste local e reconheço que o atendimento é excelente. Além de ser exclusivo para mulheres, também é realizado exclusivamente por mulheres. Não que o atendimento seja bom por isso, mas algo que é fato, com procedimentos que invadem nossos corpos e nos deixam vulneráveis, dá um certo conforto ter uma ‘igual’ te auxiliando, dando a sensação de que ela te entende, e em uma cultura onde as mulheres sofrem diversas formas de violência, para muitas é difícil aceitar ser atendida por homens (embora o ginecologista que me acompanha seja um médico muito sensível e profissional).

Foto por Pixabay em Pexels.com

Apenas para usar um exemplo, pensemos na mamografia. Exame necessário a partir de uma determinada idade, para observar se há alguma anomalia nas mamas, mas que é desconfortável e sofrido. A mulher fica ali com seus seios desnudos. De pé precisa posicionar uma mama por vez na máquina. Primeiro de frente, depois de lado, de modo que, se tudo sair bem, acabam sendo quatro posições. A técnica que faz o exame orquestra essa situação, primeiro posicionando o nosso corpo. Na sequência posiciona a mama do exame. Arruma um braço, depois mostra como o outro precisa puxar a segunda mama para não atrapalhar. Você fica inteiramente torta e quando pensa que está tudo bem a máquina começa a se mover dando a impressão que vai esmagar seu mamilo. Nessa hora o terror aumenta, mas aí a máquina para apertando a mama e traz um alívio. Você recebe o comando de não respirar nesse momento. Tudo isso leva apenas alguns segundos, que parecem uma eternidade. Mas aí vem o ok de que está terminado e a máquina alivia a pressão do seu peito. Ufa!

Todo esse processo é um tanto difícil, desconfortável e até certa medida angustiante. Por isso, ter uma profissional preparada, humanizada, empática ao conduzir o exame alivia muito o estresse da situação. Estar em um local bem equipado e cuidado nos dá mais segurança. Nós mulheres nos habituamos desde cedo a exames e procedimentos desconfortáveis a nosso corpo, suportamos dores, por isso a maioria não desiste de realizá-los por medo e não temos que desistir. Penso que as mulheres que lerem este post provavelmente já passaram por algum procedimento incômodo, um exame preventivo, cólicas menstruais que sejam, então sabem do que estou falando e sabem da importância de cuidarmos de nossa saúde sexual e reprodutiva.

No Brasil cuidar da saúde é uma tarefa árdua:

– Muitas mulheres não buscam realizar exames por desconhecimento ou porque estão mais preocupadas com outras prioridades, como: alimentação, trabalho, moradia. É necessário instruí-las e oferecer condições para priorizar a saúde também;

– Muitas mulheres não têm acesso à realização de exames preventivos, mesmo que vários desses exames sejam oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A fila de espera para realizá-los é imensa e por isso são demorados, fazendo com que hajam desistências;

– A maioria das mulheres que tem acesso aos exames e tratamentos os conseguem através do  SUS, o que faz desse sistema essencial para nossa população;

Por isso e por muitos outros motivos aqui não mencionados, o SUS precisa continuar vivo, ativo, equipado, preparado para atender a população brasileira. Para isso, o SUS precisa de recursos, de equipamentos e os profissionais que aí atuam devem ter remuneração digna e treinamentos para oferecer um atendimento tranquilo, humanizado, sensível, tão necessário no momento em que estamos vulneráveis com a saúde. As mulheres devem ter seu direito aos exames e tratamentos garantidos, com segurança e humanização.

Me sinto privilegiada por poder realizar exames preventivos em um local que possui um atendimento humanizado que alivia o sofrimento do que é se submeter a determinadas situações. Mas isso não deve ser um privilégio, deve ser a regra!

Mulheres:

– Busquemos nos cuidar e nos prevenir realizando nossos exames, mesmo que isso dê um certo trabalho;

– Resistamos levando informações a outras mulheres, para que essa voz ganhe mais força;

– Aprendamos a questionar nossos representantes políticos para que lutem por nossos direitos;

Pense: De que forma você pode participar deste diálogo?

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